A Tendência e a Arte de Guerra
“Aquele que sabe quando lutar, e quando não deve; será vitorioso. Sun Tzu” Conhecemos bem os conselhos do general Sun Tzu, mas raramente aceitamos que especulação tem alguma semelhança com a arte de guerra. Treinamos pouco, arriscamos muito e não temos paciência para aproveitar as oportunidades que o mercado de ações oferece.
Desculpem a indulgência, mas uma nota pessoal pode revelar essa realidade. Quando entrei para estudar economia na universidade de Wisconsin, no meio de um inverno rigoroso, apanhei bastante porque rejeitava os conselhos para me vestir de forma adequada. Como bom cearense, queria viver livre de toda essa indumentária que se usa para se proteger do frio. A temperatura dançava sempre abaixo de zero e o inverno durava mais de cinco meses do ano, mesmo assim eu queria me vestir como nordestino perdido na caatinga escaldante!
Com seis anos de idade também aprendi a respeitar a palmatória do professor, e me tornei o herói da classe. Eu batia mais do que apanhava porque tinha medo e me preparava mais do que os outros. Como não era mais inteligente do que ninguém e era o menor da turma, o esforço extra fazia a diferença entre a dor da pancada e alegria de vencer.
Curiosamente, toda experiência não foi suficiente para me transformar em especulador; continuo pensando como professor e apanhando do mercado como amador. Não aprendi a arte de guerra como deveria e, às vezes, esqueço a dor da perda e de vestir o casaco de especulador. A emoção me atrapalha. Às vezes, não consigo nem separar o medo de perder da necessidade de aceitar as regras mais simples. A palmatória e o inverno rigoroso me ensinaram a planejar mas não me preparei para viver com as incertezas do mercado. Entre a arte e a prática permanece o tempo implacável que não perdoa ninguém e determina o destino de nossas apostas.
Todos somos iguais nessa noite como diz a música de Ivan Lins. Por isso, aproveito a oportunidade para apontar alguns erros que cometemos quando operamos o mercado de ações. Todos conhecemos a regra da tendência, e o velho ditado de Charles Dow que avisava; – the trend is your friend! A tendência funciona como anjo da guarda sussurrando conselhos suaves, apontando as manobras certas contra os ataques imprevistos. Mas rejeitamos a indicação dela porque já temos uma opinião formada. Protegemos nossa intuição procurando informações que chegam atrasadas e a única que conhecemos é o tempo, mas não temos paciência de esperar.
Já fiz centenas e centenas de experiências com os gráficos e, apesar deles mostrarem apenas o passado, a regra de Dow é a única que funciona bem. Ela é lógica e faz sentido. Entretanto, teimamos e procuramos outra saída. Por exemplo, achamos que, ao mudar o tempo gráfico de um período pra outro ou, alterar os indicadores e médias móveis, mudaremos a tendência. Confundimos os pequenos movimentos de curta duração com ondas de longo prazo e, inadvertidamente, operamos contra a tendência.
A mensagem da tendência é clara, mas a lição é difícil. Se vamos operar olhando um gráfico de certo período é fundamental que ele esteja alinhado com outro gráfico de um período maior. Não faz sentido comprar uma ação quando o gráfico de 15 minutos diz que o preço dela está subindo, mas o de 60 minutos mostra que ele está caindo.
Não interessa o tamanho da tendência. Ela pode ser de cinco minutos, de uma hora ou de qualquer perídio que escolhermos para operar. Sabemos que quando os preços se movimentam acima da média móvel, temos uma tendência de alta; e quando estão abaixo dela, temos queda. Mas isto não é suficiente, é necessário saber se o sinal é de compra ou de venda. Isto acontece somente nas retrações. Isto é, só devemos entrar comprando ou vendendo acompanhando a tendência e aproveitando as viradas dos movimentos menores. Mesmo assim, muitos terminam comprando nos topos.
A completa citação de Dow é esta: the trend is your friend except at the end when it bends. Ela é importante, mas Dow alerta pra a necessidade de se entender também quando ela muda de direção. Isto pode ser feito se guiando com um média móvel ou observando com cuidado as posições dos suportes e das resistências. Quando os preços cruzarem a média móvel, é sinal de virada. Isso deve ser confirmado usando pelo menos dois tempos gráficos distintos.
Quanto menor o tempo gráfico escolhido parar operar, maior é a frequência de mudança de tendência. Portanto, operações feitas, observando somente preços em gráficos de cinco minutos, devem durar muito menos do que operações com gráficos de uma hora ou mais. Segundo, e ainda mais notável é a duração da jogada. Em cinco minutos a amplitude da variação de preço é muito menor do que num gráfico de uma hora. Quanto menor o tempo gráfico que escolhermos para operar, maior será o nível de adrenalina necessária para aguentar os movimentos de alta e de baixa. Além disso, jogadas curtas exigem mais capital para saírem lucrativas.
Portanto, vamos nos proteger observando as regras sem medo. Não temos alternativas mas acreditar nos instrumentos. A coragem reside em evitar os perigos e lutar somente quando temos oportunidade de vencer. A paciência de esperar diminui o estresse, aumenta a auto estima e faz bem ao bolso. Quando não estivermos preparados para analisar as condições, ou para obedecer a tendência e indicadores é melhor pescar do que operar!
Boa Sorte.
Prof. Metafix
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