Expectativas Exageradas vs. Valor das Ações

Professor Metafix 3

A notícia sobre a quebradeira do país mostrou como as crises financeiras na globalização afetam até os mais reservadas e estáveis economias deste isolado planeta. O fato é  assustador, mas a desproporção numérica, se não fosse cômica, seria ainda mais triste.

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Expectativas Exageradas vs. Valor das Ações – Uma Comédia a Caminho do Banco

Parafraseando Shakespeare sem exagerar, notamos que na minúscula Islândia, no Atlântico Norte, ?algo engraçado aconteceu a caminho do banco?. A notícia sobre a quebradeira do país mostrou como as crises financeiras na globalização afetam até as mais reservadas e estáveis economias deste isolado planeta. A Islândia é pequena, tem apenas uns 300 mil habitantes, mas tem uma das maiores renda per capita do mundo. O lugar é extraordinário; apesar do tamanho, é impressionante como um país com uma renda nacional de 12 bilhões de dólares, conseguiu dá um calote de 120 bilhões no mercado internacional! O fato é assustador, mas a desproporção numérica, se não fosse cômica, seria ainda mais triste. Felizmente, a decepção popular está sendo comensurada com a renegação do próprio povo que dormiu rico, acordou pobre e endividado, mas não perdeu o senso de humor*. Devemos perguntar, como um povo forte e orgulhoso que, com muito sacrifício e poucos recursos, construiu um paraíso social e democrático com um dos maiores níveis de vida que se conhece na terra, caiu numa armadilha de ganhos fáceis? Infelizmente, essa é a tônica amarga dos sucessos em negócios alavancados apenas na confiança além de uma base econômica real.

Vejamos o que acontece quando se ganha dinheiro sem elevar o senso crítico e sem atentar pra a origem da riqueza, ou para o montante dos rendimentos em relação à média e a realidade física dos meios. Os islandeses tomaram e emprestaram tanto dinheiro que até os mais recatados aposentados caíram vítimas da ganância que dominou o sistema financeiro com a fúria dos vulcões de seus picos nevados. Os bancos correram atrás dos lucros, esquiaram a cordilheira do sucesso e engatilharam bons negócios, mas não se livraram das avalanches quebradeiras da economia internacional. O ciclo econômico foi cruel. Eles ruíram sob a ganância insensata como muitas outras instituições em outros países que especularam com dinheiro alheio. Entretanto, o negócio era bom demais para não se aproveitar. À medida que os ganhos aumentavam, muitos imaginaram que poderiam até viver só de transações financeiras. Triste realidade, não se dava conta que atrás dos ganhos fáceis havia uma avalanche silenciosa de quebradeiras no além mar que os empurravam para a bancarrota.

A globalização alargou a fronteira econômica além da força moderada e recatada dos negócios da ilha. O dinheiro no mercado de ações e derivativos do além mar rendia muito mais do que os empréstimos domésticos. Os bancos aproveitaram a onda internacional e o bom crédito para tomar emprestadas somas enormes onde os juros eram baixos, pra investir onde os juros eram altos ou em outros instrumentos rendendo mais do que os investimentos na economia local. Isto é, cometeram o pior pecado operacional que um banco pode fazer – especular com depósitos de clientes e com empréstimos alheios. Tomaram emprestado aproximadamente mais de dez vezes o que toda a ilha produz anualmente! Só os bancos ingleses emprestaram mais de oito bilhões de dólares a um só banco islandês, dinheiro que também, em parte, pertencia aos aposentados. Como pode! Só esse montante ai, ultrapassou 75 por cento do que toda a Islândia produz num ano! A situação ficou tão grave que, com a falência do banco, o primeiro ministro da Grã-bretanha tomou uma atitude inusitada; humilhou os pacatos habitantes da Islândia utilizando a legislação antiterror para bloquear quatro bilhões de libras do Landsbanki islandês. Confira com as fotos de protesto no link,* http://www.indefence.is/

Depois que os três maiores bancos na ilha faliram, a moeda depreciou-se mais de trinta por cento e as dividas consumiram as reservas, o país não pode importa sem pagar a vista. A economia está tecnicamente falida, mas como vive da pesca, 70 por cento da exportação vem do pescado, especialmente bacalhau, agora terá que viver como muito menos e pescar muito mais. A falta de petróleo, de medicamentos e de outros produtos essenciais afetará tanto os aposentados como a população economicamente ativa, que antes desfrutava de um nível de ocupação sem precedência em todo mundo. Antes da crise havia apenas um por cento de desempregado!

A lição parece simples, mas é profunda. Ela é sutil, mas é importante para quem investe em ações. Primeiro devemos notar que as economias abertas, aquelas que têm um alto componente de renda gerada no comércio exterior, mas também todos que, de alguma forma, negociam com ativos financeiros, devem atentar para a lição. Ela mostra quatro coisas; primeiro, quanto maior o nível de abertura de uma economia maior o perigo que ela corre com os choques externos. Segundo, limitar a alavancagem e empregar uma proporção menor do capital em ativos com elevado nível de volatilidade; terceiro, desconfiar de rendimentos muito elevados, acima da média. Quarto, não esperar para realizar lucro e não se arrepender dos retornos que deixou de realizar porque lucro pequeno não quebra ninguém.

Há outras lições nisso; para os países pequenos, o que era bom, agora está sob suspeita, eles devem aprender que não tem condições de serem banqueiros do mundo. A velha ética da autonomia defendida por aqueles que desconfiam das vantagens comparativas que sustentam o comércio internacional, volta reinar entre os países pequenos. Lastro, reservas e tamanho são importantes especialmente em bancos. Vejam a diferença que o tamanho faz – a moeda islandesa já perdeu mais de 30 por cento de seu valor, enquanto o dólar americano já recuperou o que havia perdido há muito tempo! O índice do dólar (valor ponderado do dólar em relação àsprincipais moedas) subiu de 0,72 antes da crise para 0,87 pontos com a crise, uma apreciação aproximada de 15 por cento. Por outro lado, sempre que existe muita volatilidade e giro de capital intenso, deve-se manter um nível de reserva mais elevado.

Vamos estender a segunda a lição um pouco mais porque ela é aplicável a todos investidores, incluindo países e empresas. Subtraindo um pouco da estatística que diz que todos os dados regressam para um meio termo, sabemos que existem valores pequenos e grandes, ou altos e baixos, mas a maioria se congrega ao redor de uma média aritmética. Os dados extremos são poucos. Essa convenção pode ser aplicada até nas medidas de altura das pessoas. A natureza tem regras próprias e se não fosse a lei de regressão, só existiriam pessoas baixas e pessoas altas. Será que o retorno sobre ações é diferente? Mesmo que seja, desconfiar é como sopa de galinha, não faz mal a ninguém. Faz bem desconfiar de retornos extremos, quer sejam baixos ou muito acima da média. Não esquecemos a estatística. Ela não mente, embora haja muitas mentiras com estatística. Infelizmente, a pior de todas é negar a realidade para não contrariar desejos de lucros fáceis.

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