Jogadas de Alta Frequência
Os Mercados financeiros do mundo inteiro terão que passar por reformas profundas. Estamos vivendo um momento saprófito; apenas 2 por cento dos aplicadores controlam 80 por cento de todas aplicações nas bolsas americanas. Além disso, grandes somas de dinheiro, aplicadas de uma só vez, e com intensa frequência, estão secando a fonte que irrigava o mercado com o sonho de uma concorrência saudável. Grandes operadores fazem de tudo pra se beneficiarem de mudanças que eles provocam nos preços .
O pool money, de grandes hedge funds, corretoras e bancos, afugenta milhões de aplicadores que desejam participar da bolsa, mas não tem condições de concorrer com esses gigantes do mercado. Os investidores anônimos eram os pilares da concorrência, assumiam os riscos e alimentavam as empresas com o capital necessário para tocarem os negócios. Agora, são considerados presas ou sardinhas para serem devoradas por qualquer tubarão.
O emprego de algoritmos em jogadas de alta frequência (HFT, sigla em inglês) com a participação de grandes bancos mudam em instantes o rumo do mercado sem que os pequenos aplicadores possam evitar as bruscas alterações de preço.
Aplicar na bolsa era um meio para se canalizar recursos de agentes superavitários para as empresas produtivas, agora se transformou num atividade que desvia recursos da produção para as transações. Enquanto dinheiro corre atrás de dinheiro, até as grandes empresas sofrem por falta de crédito porque o dinheiro é para alimentar o próprio dinheiro. O sistema se tornou autofágico, ameaçando a própria base de sustentação.
Além disso, e de uma maneira prática, o custo das operações aumentou para os pequenos investidores e diminui para os grandes aplicadores. Apesar de ainda existir um pouco de espaço para os pequenos que procuram se atualizar e entender dos métodos de operação, a maioria não tem nem meios nem tempo para se preparar e se dedicar a essas atividades.
Enquanto isso, os grandes montam malhas de proteção com jogadas de curtíssimo prazo, para evitar os riscos das flutuações de preço de períodos mais longos. O tamanho e o volume das aplicações transformaram algumas instituições em grandes demais para falir (Too Big to Fail). A noção lógica que dizia que há segurança em números perdeu sentido, essas garantias estão desaparecendo.
O negócio é se proteger dos riscos escondendo-se por trás dos volumes das aplicações. Sacrificam-se a produtividade e a eficiência, essenciais ao crescimento, em troca da diminuição de riscos até por meios políticos. Estreita-se o caminho da produtividade e alarga-se a estrada das garantias de grandes negócios. Enquanto isso, os pequenos se equilibram na corda bamba e se defendem dos riscos com meios pouco eficazes na atualidade.
Antigamente, especuladores solitários e corretores de porte tentavam fazer corner numa ou noutro ação mas, na maioria das vezes, o sucesso era tão pequeno que transformava os atrevidos em vítimas de suas próprias ambições. Havia confiança tépida de que o mercado era tão grande que nenhum jogador ou instituição solitária poderia derrubá-lo. A segurança dependia da diversidade ecológica do sistema, como em qualquer ambiente saudável. Agora, grandes computadores são montados perto das bolsas, para diminuir o tempo de operação. Eles protegem da volatilidade do mercado aqueles que tem muito dinheiro.
O desejo de dominar permanece imbuído no espírito animal dos especuladores. A ganância cresceu com a falta de regulamentos adequados e com abundante capacidade para processar grandes jogadas. Com o advento de computadores possantes, é possível se fazer processamento de algoritmos complicados, desenvolver cenário tipo Monte Carlo e aplicar fractais para comprar e vender muitas ações em fração de segundos. Os robôs operam com tanta rapidez que o público não percebe as pequenas variações de preço. Caiu a importância do open cry, aquela gritaria dos leilões que mostrava uma bolsa transparente!
Os High Frequêncy Trades (HFT) são tão comuns que a maioria das ações fica apenas poucos segundos girando em mãos de especuladores robotizados. A idéia de que todos devem investir e evitar a especulação porque ela é nociva ao sistema e a quem pratica, talvez nunca existiu, e perdeu sentido lógico na atualidade. Precisamos de um novo paradigma de operação. É necessário evitar a autofagia que destrói a própria fonte de sobrevivência do mercado.
Destarte, a bolsa virou um cassino onde o operador individual é apenas um jogador. Os grandes controlam a roleta. Eles puxam os preços para cima e pra baixo à revelia do mercado. Tudo é programado. Eles tem as informações. Até os pequenos cookies escondidos nas máquinas dos investidores solitários podem revelar a posição dos operadores independentes sem que eles percebam.
Os governos pensam em regular o Day Trade, mas não sabem como e, até agora, não tomaram nenhuma iniciativa importante. O poder dessas instituição é grande e bloqueia qualquer tentativa de regular jogadas de curtíssimo prazo. Enquanto isso, os pequenos operadores não reagem e acreditam no governo. Tentam imitar os grandes e preferem não apitar com medo de perder oportunidades. Entretanto, com pouco dinheiro e sem informações adequadas, sem conhecimento dos métodos e sem programas apropriados, escorregam como Sísifo: os ganhos se perdem de ladeira abaixo. Todavia, eles voltam a insistir com os set-ups que podem ver tudo pelo retrovisor, mas não conseguem enxergar nada pelo pára-brisa.
Apesar da grande adversidade, muitos pequenos ainda podem gozar de algumas vantagens; como, diversidade e investimentos de longo prazo. Infelizmente, essas vantagens são ignoradas porque somos prisioneiros dos mesmos desejos. Muitos preferem operar com idéias próprias produzidas pela fertilidade da imaginação sem conhecimento de causa. Cada operador deseja seu próprio método e, como sempre, ignoram a sabedoria dos grandes players do passado. Estes preferem operar seguindo os gráficos dos preços sem atentar pra natureza aleatória das séries temporais.
Enquanto isso, a concentração de poder desanima os novatos e as corretaras dos mercados periféricos que ficam à margem do processo. A maioria suspeita mas não entende porque, em fração de segundos, o volume de negócio na bolsa sobe e desse, produzindo os conhecidos violinos, no jargão dos grafistas. A volatilidade de preço é grande, e não para de crescer e de assustar os novos investidores. É necessário operar com agilidade e seguir os mercados do mundo inteiro pra poder entender o que possa acontecer porque tudo está correlacionado.
A falta de regras permite aumentar o tamanho dos chamados Dark Pools; grandes e invisíveis somas de dinheiro que alavancam as jogadas de alta frequência robotizadas. Essas enormes aplicações são possíveis porque os bancos dão grandes descontos para as operadoras robotizadas; e os algoritmos permitem se juntar muitos pedidos numa única ordem. Ao mesmo tempo, aumentam-se as comissões para os pequenos, forçando-os a operar com pouca diversificação porque precisam de volumes maiores para poder compensar as jogadas intermitentes. As corretoras também podem fazer os bundles, juntando muitos pedidos de mercado em única posição.
Num passado recente as corretoras empregavam muitos operadores que recebiam as ordens dos clientes e transmitiam-nas manualmente, uma de cada vez, via telefone para o pregão na bolsa. Agora, as ordens entram num pool de aplicações e são executadas em frações de segundos por computadores possantes. O investidor paga uma comissão alta pela jogada imaginando que ela seja executada individualmente, mas ela é colocada num pool de ordens de preços limitados. Esse é o famoso bundle que num passado recente contribuiu para derrubar o mercado imobiliário nos Estados Unidos.
Como dito, a maioria das transações não é feita no pregão ao vivo, mas via os enormes computadores que fazem o match ou acasalamento entre compras e vendas. Por isso, é necessário só fazer jogadas com preço limitado e sem stops para evitar que o dinheiro cai na mão de bandidos. Ignorem as pequenas oscilações de origem desconhecida. Não se deve revelar posição ou se intimidar com os movimentos bruscos. Sigam a tendência, ela resiste ao tempo e ainda protege os pequenos que não tem recursos ou acesso às novas tecnologias para fazer jogadas de curtíssimo prazo!
Boa sorte
Prof. Metafix
- Negociando Moedas no Intraday - 28/04/2024
- Fundos ETF de Moedas - 13/04/2024
- O jeito certo e o errado de operar ativos - 11/03/2024
Caríssimo Professor Metafix, permita-me, depois de ter tido o privilégio de ler muitos dos vossos artigos nas últimas 24 horas, usufruir um pouco mais da vossa vasta experiência fazendo-lhe uma pergunta: Num universo de três ações de maior liquidez da Bovespa, por exemplo, respeitando-se as leis da probabilidade, com que frequência, para um operador de “day trade” que acompanha diariamente as telas durante todo o pregão, surgirá uma boa oportunidade de entrada (compra ou venda à descoberto) com os gráficos dos principais períodos (semanal, diário, 60min., 15min., 5min., e 1min.) alinhados? Uma vez por semana, uma em quinze dias? Uma por mês? Estou sendo otimista ou pessimista demais? Será que devo acompanhar mais ações, mais gráficos ou menos períodos para obter algum êxito nas operações? Pela atenção dispensada, lhe agradeço.
Cordialmente,
Rogério