Tudo de Errado com o Paciente
Em meados de abril, p.p. escrevi essa nota em resposta a Sra, Zeina Latif da XP Investimentos. Ela havia publicado, no Estado de São Paulo, uma nota, “Nada de Errado com o Paciente”. Como nada mudou muito de lá pra cá, decidi publicar o mesmo pensamento aqui no Investmax.
A Sra. Latif é economista chefe da XP investimentos, corretora onde opero. Ela mostrou que escreve muito bem, pois apesar de ganhos econômicos pouco animadores, decidiu apresentar uma visão morna porém otimista da economia brasileira. Esse otimismo é saudável, mas é típico de quem precisa animar agentes econômicos que aguardam melhorias reais em nosso mercado para poder investir ou consumir.
Entretanto, os agentes econômicos reconhecem que a economia brasileira vai mal e sem rumo concreto, pois pouco se sabe qual é a política econômica desse governo. Devemos pensar sem interesse partidário e separar quatro problemas que mantém o crescimento da economia brasileira lenta e sem perspectivas de acelerar no curto prazo. Fica evidente que nesse cenário é necessário administrar as aplicações com cautela e evitar investimentos de longo prazo até que haja melhores indicações sobre o rumo da economia. Para impulsionar a economia numa jornada sustentável de crescimento seria necessário atacar 4 problemas que afligem o país.
Primeiro, o endividamento do setor público, sem uma contrapartida de recursos, emperra qualquer tentativa para aumentar a produtividade desse setor.
O governo precisa reorganizar a administração pública, cortando gastos e mudando as prioridades para tornar o setor mais eficiente. Gasta-se para patinar no mesmo lugar porque sem uma transformação profunda na administração, a única forma para se manter os péssimos serviços é gastar com mais endividamento. E sem um forte apoio político para fazer as mudanças necessárias, não temos perspectivas de melhorias significativas.
Segundo, os consumidores não estão gastando porque o nível de endividamento passado parece ser ainda bastante elevado e a renda não cresce e nem aumentou para um nível compatível com as necessidades de se manter um consumo que aumente o nível de emprego.
O terceiro pilar dessa construção são os investimentos privados que não evoluíram esperando mudanças concretas na política econômica. E esta não ocorre por falta de poder ou entendimento das autoridades. Agentes econômicos, quer sejam pequenos, grandes, consumidores ou investidores, não têm condições de investir ou gastar quando grandes incertezas pairam sobre o cenário político. A estabilidade política e rumos claros são fundamentais para reativar a economia. Mas o governo não pode administrar bem a economia ou o setor público quando perde tempo e energia se preocupando com quem vai governar.
E por fim, o quarto pilar é o setor externo. Nossos parceiros comercias têm muita razão pra desconfiar de nossos produtos, especialmente os de origem animal e vegetal. E estes constituem a maior parte de nossas exportações. A desconfiança que paira sobre o setor público e político se estende também sobre os produtos que exportamos. Ainda conseguimos vender bem porque nossos preços são favoráveis.
O cerne do crescimento é a produtividade. No longo prazo temos que aumentá-la e melhorar a infraestrutura. Não se cresce apenas aumentando o uso dos recursos. Isso deve ficar bem claro, pois trata-se de uma questão que só podemos resolver com transformações tecnológicas. Essas mudanças são bastante carentes de apoio no cenário econômico e político atual. Sem investimentos no setor privado, sem reorganização do setor público e sem melhorias na infraestrutura, não teremos aumento de produtividade e, se esta não crescer, continuaremos sonhando com o futuro preso pela inércia administrativa e velhos hábitos incongruentes com as necessidades da economia. Investimentos e aplicações financeiras são atividades que exigem administração rigorosa e isenta de emoções. Em cenários otimistas, quando a economia vai bem, quase todos investimentos dão bons rendimentos e podemos aplicar e sair pra pescar!
Em cenários pessimistas, como o atual, precisamos ser mais ativos e aproveitar as boas oportunidades de curto prazo que o mercado financeiro oferece. Por exemplo, quando economia está crescendo bem, podemos aplicar em ações e aguardar os preços subirem acompanhando a economia. Entretanto, em cenários de baixo crescimento e muita incerteza, precisamos aplicar por períodos curtos aproveitando os pequenos ganhos que naturalmente ocorrem mesmo quando a economia não vai bem.
Boa Sorte Prof – Metafix
Wisconsin,EE.UU, Junho de 2018
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