Para Onde Vai o Dinheiro – A relação entre os mercados

Professor Metafix 3

Aproveito a oportunidade para examinar algumas relações que afetam a bolsa de valores e podem servir de guia, ainda que distante, para as nossas decisões. O dinheiro circula, procurando manter seu próprio valor, entre as principais moedas, títulos da dívida pública, ações e commodities. Enquanto isso, podemos ver que mudanças num ativo tem efeitos imediatos sobre os demais.

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Para Onde Vai o Dinheiro
A relação entre os mercados

             Adoramos os mistérios. Eles aguçam a nossa curiosidade e motivam o saber. No mercado financeiro, a emoção e a necessidade aumentam nossos interesses para entender o movimento do dinheiro e a mudança nos preços de ativos e produtos que negociamos. Infelizmente, entre tantos fatores que influenciam os preços só podemos contar diretamente com o tempo. Ele é a única variável independente que atua visivelmente sobre os valores; as outras são mistérios, forças aleatórias imprevisíveis. Mesmo assim, procuramos colocá-las numa ordem mental apesar do caos e da falta de regularidade que elas demonstram. Entretanto, como a emoção do saber ultrapassa o esforço da luta, procuramos tirar proveitos colocando ordem imaginária nas relações misteriosas que o dinheiro esconde.

            Aproveito a oportunidade para examinar algumas relações que afetam a bolsa de valores e podem servir de “Enquanto isso, podemos ver que mudanças num ativo tem efeitos imediatos sobre os demais” guia, ainda que distante, para as nossas decisões. O dinheiro circula, procurando manter seu próprio valor, entre as principais moedas, títulos da dívida pública, ações e commodities. As commodities são particularmente sensíveis ao valor do dólar americano em relação a outras moedas e merecem uma consideração a parte. Enquanto isso, podemos ver que mudanças num ativo tem efeitos imediatos sobre os demais.

            Felizmente, a globalização ajuda bastante a entender a movimentação de recursos dos investidores entre mercados e ativos. Atualmente tudo está interligado. Por exemplo, às 10 horas da noite no Brasil já temos ações brasileiras sendo negociadas no mercado de Tóquio. Quando o mercado abre em São Paulo, já podemos ter uma idéia de como será o dia porque os investidores no Japão, na Europa e no pre-pregão americano já deram sinal de como será o dia. Apesar das distâncias, o humor do nosso mercado é contaminado pelo humor dos outros. E assim, o dinheiro corre entre mercados de forma quase instantânea. À medida que o dinheiro se movimenta entre diferentes aplicações, notamos uma interdependência grande entre as bolsas de tal maneira que aquilo que acontece numa afeta as demais. Essas inter-relações ajudam entender para onde vai o dinheiro e como elas influenciam o preço dos produtos negociados.

            Antes de continuar, é importante lembrar de que, apesar da lógica implacável dessas relações, temos que conviver e aceitar a força do acaso que impede qualquer determinismo. As correlações, às vezes falha ou são fracas e por isso a interpretação delas exige cuidado. Elas clareiam, mas não explicam tudo, apenas estabelecem um referencial importante para quem opera diariamente. Ademais, conviveremos sempre com divergências, dúvidas e emoções subjacentes a intenção dos investidores espalhados pelo vasto mundo das finanças.

            Sabemos que o dinheiro representa os recursos da economia. Ele circula com facilidade entre os mercados procurando ativos mais rentáveis e de menor risco. O néctar do sucesso é a relação inevitável entre retorno e risco. Essa é uma combinação complexa, mas bastante natural porque já sabemos que a dor das perdas é mais intensa do “a dor das perdas é mais intensa do que o prazer dos ganhos” que o prazer dos ganhos. Ganhar mais com o menor risco é o que todos desejamos e, por isso, continuamos cambaleando como o bêbado que procura se equilibrar na calçada para não cair na sarjeta dos prejuízos. Reconhecemos o perigo, mas não podemos evitar a força da probabilidade que impulsiona, sem controle, os preços para um lado e para outro, atiçando nossa imaginação e o desejo de ganhar mais com menos risco.

            Embora operar com tranquilidade não seja assim tão fácil, seria interessante compreender o comportamento dos investidores como um jogo para entender o mercado. Mas como não temos parâmetros para julgá-los, aproveitamos para acompanhar o movimento do dinheiro que eles empregam. Esta é a forma mais fácil para se entender o comportamento do mercado. A direção dos investimentos mostra o sentimento dos aplicadores sobre as expectativas que eles têm de cada mercado e de cada aplicação. É essa soma sinergética que determina o que acontecerá com os preços dos ativos.

            Entender as relações entre os principais ativos é um bom começo para quem gosta de operar com um modelo simples. Por exemplo, a relação inversa entre o preço dos títulos do governo e o preço das ações mostra que, quando os investidores desconfiam do mercado de ações, eles correm para títulos públicos. Assim, quando os preços das ações estão caindo, notamos um amento no preço dos títulos via a queda no rendimento deles. Isto é, sabemos que quando os preços dos títulos aumentam, o rendimento esperado deles diminui porque valor contratual deles, ou valor de face, não se altera. Destarte, podemos verificar de forma simples a correlação direta que existe entre o retorno esperado dos títulos públicos e os preços das ações.

            Note que é fácil lembrar dessas relações porque os rendimentos esperados dos títulos caminham na mesma direção dos preços das ações. Os dois representam formas de compensação do investimento. Isto porque, o rendimento ou valor de qualquer bem ou ativo varia de forma inversa ao poder de compra da moeda. Aparentemente, isto se trata de uma curiosidade singular, mas os dois, rendimentos de títulos e preço de ações, estão proporcionalmente inversos ao valor do dólar americano porque ele é o meio de troca mais usado no mercado internacional.

            Quando os investidores sentem que o preço das ações pode aumentar, eles vendem títulos públicos e moeda reserva (o dólar americano) para se aproveitarem do aumento de preços das ações. Neste caso, o dólar pode cair porque os investidores o trocam por moeda local para comprar ações. Portanto, estamos falando de duas relações, uma entre ações e títulos de dívidas e, a outra, entre estes (títulos e ações) e a moeda. É importante entender que o dólar americano está para o comércio internacional assim como o Real está para o nosso comércio interno. O valor dele diminui quando o de outras moedas, que compõem cenário financeiro, aumenta e vice versa. E quando o valor dele diminui o preço das commodities tende a subir para compensar a queda no poder de comprar da moeda.

            A redundância na explicação é importante para compreendermos o que acontece. Assim, além da relação inversa entre o valor dos títulos e das ações, de um lado, temos do outro, uma relação inversa entre estes e o dólar americano. Esta última é semelhante aquele que existe entre qualquer moeda e o preço das mercadorias. Quaisquer aumento de preço exige maior desembolso de quem precisa da mercadoria ou ativo. Isto é, a nível individual, sentimos que o dinheiro no bolso vale menos quando temos que pagar mais por um produto! E no cenário internacional não é diferente, quando o valor da moeda principal, o dólar, muda, o preço das commodities se altera e o valor de outras moedas muda também de forma inversa.

            Vejamos o que acontece no Brasil; quando o rendimento esperado dos títulos públicos diminui, o risco no mercado de ações deve estar aumentando. Os títulos do governo ficam relativamente mais atraente porque são bem “Entender essa triangulação é fundamental para se compreender para onde vai o dinheiro e, às vezes, antecipar mudanças nos mercados” mais seguros. Os investidores também podem correr para o dólar americano que no curto prazo é bastante seguro; o dólar sobe e ações caiem. Dai que o preço das ações se relacionam diretamente com os rendimentos e inversamente com o dólar americano. Entender essa triangulação é fundamental para se compreender para onde vai o dinheiro e, às vezes, antecipar mudanças nos mercados.

            Para efeito de ilustração simples, apresento, acima, o gráfico semanal de um ano, entre o Ibovespa e o valor do Dólar americano em reais. Para quem deseja operar com sucesso, não custa nada examinar essa relação e outras mais, antes de tomar uma decisão. A internet está repleta de dados importantes e relevantes para quem opera diariamente ou ate mesmo no longo prazo. Ela apresenta e atualiza intermitentemente os índices das principais bolsas. Eu, particularmente, gosto de acompanhar também índice do dólar americano. Este índice é uma média ponderada com as principais moedas usadas no comércio internacional. Além dele lançar uma luz sobre o mercado de ações, esclarece bastante como o mercado de moedas se comporta.

Boa sorte!
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