O Medo e a Ganância no Preço das Ações

Professor Metafix 2

como transformar problemas complexos, como o movimento de preços de ativos financeiros, especificamente ações e títulos de dívida, em propostas simples e poderosas que contenham elementos concretos?

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O Medo e a Ganância no Preço das Ações

A maioria das pessoas aceita a existência do céu e inferno sem dados que comprovem o enunciado porque teme o impacto da dúvida mesmo depois da morte. Trata-se de uma hipótese tão poderosa que Pascal usou lógica matemática para se convencer e, com medo do inferno, enclausurou-se num mosteiro para garantir o lugar dele no céu! Entretanto, como transformar problemas complexos, como o movimento de preços de ativos financeiros, especificamente ações e títulos de dívida, em propostas simples e poderosas que contenham elementos passíveis de fé?

Quando acreditamos em alguma coisa, a lógica da fé toma conta e rejeitamos qualquer critica contrária. Infelizmente, o salário de Pascal que diz que, é mais barato acreditar em Deus do que duvidar, não se aplica ao mercado financeiro. É nesse mistério que os iniciantes se perdem. Não precisamos de fé sem comprovação, mas não podemos duvidar de dados concretos que esclareçam o movimento do mercado de ações.

Sempre repeti para meus alunos que a ignorância sai mais cara do que o saber e só o conhecimento prova que não “Precisamos entender dos gráficos e observar o cenário financeiro para, pelo menos, não errar por falta de conhecimentos importantes” sabemos. Portanto, a dúvida é importante porque nos protege dos perigos, mas não garante jogadas. Precisamos entender dos gráficos e observar o cenário financeiro para, pelo menos, não errar por falta de conhecimentos importantes.

A última semana de outubro foi agitada e mostrou que o mercado de ações é mais complexo do que a simples proposição de se ganhar ou perder ou até mesmo a de reduzir riscos em jogadas individuais com fé nos resultados. O comportamento do mercado mostrou que ainda sofremos dos reflexos da incerteza que paira sobre a economia mundial. Surgem novas relações e velhas se renovam para explicar o que acontece com mercado de ações, mas não convencem. Entretanto, os dados mostram que a migração recente de capital entre ativos vem influenciando o preço de ações de forma transparente, basta examinar alguns dados e o que vem acontecendo recentemente.

Até agora, as políticas públicas para conter a crise econômica alteraram o cenário financeiro sem dinamizar o setor produtivo. O desemprego ainda cresce, embora lentamente. Houve algumas melhoras mas não convenceram os investidores de que há uma recuperação duradoura. Enquanto isso, o mercado vive de uma atividade quase saprófita, alimentando-se de boatos que pairam no ar enquanto o julgamento final se distancia das expectativas dos grandes investidores. Os recursos se movem em ondas especulativas e sobra pouco para a produção.

A instabilidade ainda é enorme e qualquer boato ou notícia verdadeira, embora insignificante, alteram o humor dos investidores que para evitar prejuízos preferem investir em ativos financeiros seguros apesar da baixa rentabilidade. Por isso, migram seus recursos para mercados mais estáveis sob qualquer ameaça de perdas no mercado de ações. Os grandes não acreditam no salário de Pascal, porque pra eles nada é irreversível, mas simplificam as operações como aves de rapina que se escondem das tormentas e reaparecem depois procurando oportunidades nos escombros da destruição.

Apesar do enorme desconhecimento que ainda escurece o cenário especulativo, temos algumas variáveis que são, inevitavelmente, pivôs semi-permanentes dessa instabilidade inquietante. Elas acrescentam uma dose de amargura “Eles sabem que a dor da perda é muito mais intensa do que o prazer dos ganhos” nos setores mais conservadores e poderosos do mercado, forçando-os, como dito, a migrarem o capital para ativos com rendimentos estáveis. Eles sabem que a dor da perda é muito mais intensa do que o prazer dos ganhos e preferem não perder do que arriscar em ações ou investimentos produtivos de retornos duvidosos.

O valor do dólar, a dívida dos EUA e o déficit na balança comercial americana são aquelas variáveis que vem marcando nitidamente a trajetória das bolsas do mundo inteiro, independente da estabilidade das economias onde elas se inserem ou da nossa crença do que pode acontecer. Estes são os elementos que todo investidor deve acompanhar para entender melhor essas bruscas mudanças de preço.

O valor do dólar pode ser observado pelo índice dele próprio no site, www.ino.com. Trata-se de uma média ponderada por seis moedas importantes, como o Euro e o Iene entre outras. O outro indicador que mede o valor do dólar é um ETF, de código UUP. Pra facilitar, tenho acompanho o câmbio, usando apenas a relação euro-dólar. Dado o peso do euro no índice dólar, a relação entre essas duas moedas tem sido suficiente para mostrar como o índice Dow Jones é sensível às mudanças no valor da moeda americana. Alias, durante o pregão, a relação entre euro-dólar é tão próxima que dá para se acompanhar a evolução dela observando as mudanças no Dow Jones.

A outra variável que altera bastante o preço das ações são os leilões do Tesouro Americano que acontecem todos meses. Como sabemos, o déficit do orçamento federal americano deste ano é de aproximadamente 1,8 trilhão de dólares. Por isso, todos os meses o Tesouro tem que captar aproximadamente 150 bilhões de dólares com lançamentos de títulos da dívida pública.

As notícias sobre os déficits na balança comercial não afetam tanto os preços porque trata-se de um quadro quase permanente, e o mercado já precificou os resultados, embora continue precificando lentamente com o passar dos pregões. Apesar do déficit comercial não alterar o preço das ações imediatamente e de haver caído com a crise, ele é ainda enorme, mais de 350 bilhões por ano. Ele é responsável pelo grande volume de dólares no mercado internacional. A queda do dólar, aos poucos, contribui pra diminuir esse déficit, mas a solução ?definitiva? só virá no longo prazo.

Portanto, todas vezes que o Tesouro lança títulos no mercado, os grandes investidores, incluindo bancos centrais de outros países adquirem títulos da dívida americana. O dinheiro sai das reservas desses bancos e da venda de ações “Tradicionalmente, quando o governo aumenta a taxa de juros, os preços das ações caiem” dos grandes investidores. Tradicionalmente, quando o governo aumenta a taxa de juros, os preços das ações caiem e a dos títulos aumentam por causa da migração de capital. Por enquanto, o governo nem precisa aumentar a taxa de juros para atrair capital. A incerteza no mercado de ação é tão grande que os dólares rolando no mercado internacional são suficientes para alimentar a fogueira da divida. Os grandes investidores de todos cantos da terra aceitam os títulos da dívida como alternativa às ações que podem cair a qualquer momento e aos dólares que perdem valor diariamente.

Além do capital migrar entre os ativos, as ameaças e oportunidades que a crise gerou também produzem uma situação paradoxal. Isto é, à medida que a crise atingia a economia americana, o dólar se fortalecia em vez de enfraquecer. De outubro de 2008 até março de 2009 o dólar apreciou em relação as outras moedas mas, de março deste ano até agora, o dólar perdeu força enquanto as ações aumentavam de preço. Assim, a mudança no valor do dólar americano se reflete diariamente nos preços das ações. E ainda o mais paradoxal é quê o medo da crise em outras economias também realimenta as bolsas de valores.

A mecânica é simples e interessante. O dinheiro migra para onde há maior rentabilidade e menos risco. Entretanto, quanto maior for a quantia a ser investida maior é o interesse por ativos mais seguros. Os últimos leilões do Tesouro americano provaram essa hipótese. Mostraram também que não existe necessidade de se aumentar os juros para captar recursos. A procura por títulos foi tão grande que o mercado de ações caiu dois dias consecutivos e os juros dos títulos ficaram abaixo de 1,5 por cento. Afinal de contas, é melhor ganhar pouco do que não ganhar nada ou perder muito!

Os investidores pequenos enrustidos de esperança, perguntam, por que investir em títulos que pagam tão pouco, menos de 2 por cento por ano? Uma boa resposta está na nossa relação com a loteria. Ninguém é louco para investir “Portanto, fiquem atentos, pois qualquer boato espanta os grandes e as ações na bolsa caem.” grandes quantias na loteria porque o risco de se perder tudo é enorme. Enquanto isso, o custo de se fazer uma ?fezinha? é tão baixo que jogamos de vez em quando sem nos preocupar com o prejuízo. Portanto, podemos aplicar a inversa de Pascal; ela também é implacável. Por que ter certeza, se não custa nada duvidar da bolsa, especialmente quando temos tanto capital flutuando e livre para penetrar em qualquer mercado e alterar o rumo dos preços das ações? Portanto, fiquem atentos, pois qualquer boato espanta os grandes e as ações na bolsa caem.

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2 comentaram sobre “O Medo e a Ganância no Preço das Ações

  1. A BOVESPA REALMENTE PRECISA AMPLIAR A DISSEMINAÇÃO E UNIERSALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO PÚBLICO SOBRE MERCADO DE CAPITAIS. EDEMIR PINTO, DIRETOR E PRESIDENTE DA BM&BOVESPA VAI PRECISAR DE UMA BOA ESTRATÉGIA PARA ATINGIR SEUS 5 MILHOES DE INVESTIDORES PESSOAS FÍSICAS….

  2. Muitos nao investem no mercado de açoes por falta de conhecimentos e medo, porem poercebe-se a grande oportunidade que existe nesse mercado de obter rendimentos melhores que poupanças e CDB”s, mesmo investindo de forma conservadora. Muito bom o artigo.

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