A Morte dos Juros e as Ações Brasileiras O efeito da queda nos juros americanos.
O banco central americano (Fed) baixou a taxa de juros para um nível desnecessário e talvez o mais baixo de sua historia. Todavia foi um ato de contrição e humildade, uma confissão de que havia falhado. Nada aconteceu e talvez não acontecerá. Todavia, o mercado de ações reagiu mais por uma obrigação do hábito do que por uma necessidade funcional pois há muito tempo que o Fed vinha levando o cavalo a fonte, mas sem sucesso. Com a queda inexorável no mercado de ações, os investidores já vinham correndo há tempos para o mercado de títulos procurando se proteger. Essa corrida conseguiu baixar tanto a taxa de juros implícita que ela já não tinha relevância para determinar os investimentos na produção. Compravam-se títulos do governo só para proteger o valor dos ativos. Finalmente, o Fed reconheceu a morte cerebral das taxas praticadas e oficiou a extrema-unção.
Sentimentalismo a parte, é o fim de uma politica inútil que não conseguia estimular a economia. Levando em consideração a impotência de outras medidas, esta soa um suspiro de alívio em tudo que o banco pretende fazer. Agora é tudo ou nada. O importante é entender que o banco tem outros meios para incentivar a economia. E a medida terá outros efeitos que vão além da fronteira americana.
“o desespero e o destino forçam os homens a modificarem os hábitos para aliviar a presunção da competência politica que ainda ultrapassa o poder da técnica e a força das teorias” O Fed, além de estabelecer uma das menores taxas de juros do mundo, de apenas 0,5 por cento, determinou também que ela poderia variar até zero por cento no curto prazo. Estranha solução, mas nessa época de muito nanequismo e pouca inovação, o desespero e o destino forçam os homens a modificarem os hábitos para aliviar a presunção da competência politica que ainda ultrapassa o poder da técnica e a força das teorias. Pelo menos, uma coisa ficou clara, já sabíamos que os homens de negócios agem quando as expectativas de lucro ultrapassam qualquer preocupação com os custos, inclusive o de tomar dinheiro emprestado. Isto é, ninguém deixa de produzir porque os juros são altos, mas porque a expectativa de lucros são baixas.
Todavia, não exageremos, a decisão foi corajosa, mas não deixa de ser uma contradição filosófica. O Fed se preocupava mais com a inflação do que com o desemprego e a produção. Se antes havia problemas de crédito, agora o Fed pode estar precipitando uma armadilha da liquidez, que é o pior dos males que pode afligir uma economia capitalista. Já faz mais de vinte anos que o Japão pratica taxas de juros baixa e não consegue crescer como crescia antes. Por outro lado, o Brasil mostra que é possível crescer com juros elevados. Se os Estados Unidos entrarem no compasso japonês, onde os juros são insignificantes, a economia mundial hibernará por muito tempo com a exportação do congelamento econômico praticado aqui nos Estado Unidos. Juro é a alma do dinheiro e, com ele a zero, pode surgir uma armadilha, onde ele perde o poder de estimular a economia e se transforma num mero meio de troca.
A situação é complexa e delicada, mas ficou claro que o Fed vai mudar o foco das preocupações e tentar injetar dinheiro na economia por outros meios. Agora, em vez do mercado procurar o banco ele irá até o mercado. Em outras palavras, procuram-se investidores! A coisa se inverte de forma sutil e lamentavelmente equivocada. Não adianta levar o cavalo a fonte, já existia bastante liquidez no mercado, porém muito mal distribuída. O dinheiro continua circulando pelos canais financeiros que temem emprestar ao setor produtivo por causas dos riscos de inadimplência e optam pelo baixo rendimento com mais segurança. “Gato escaldo de agua fria tem medo”, diz o ditado. Os bancos estão espantados com a crise, mas até agora não assumiram nem os pecados originais de especular com dinheiro de clientes.
Infelizmente, os riscos da inadimplência no setor produtivo é bem diferente daquele no setor financeiro. O primeiro tem a ver, entre muitos, com moradias, transporte e o baixo consumo de bens carregados de alta tecnologia, caros e inacessíveis a uma boa parcela da população que ficou em segundo plano com o enorme ganhos advindos das novas invenções. O segundo, tem a ver com a ganância que alavancou tanto os ativos que se negociavam grandes somas de dinheiro com uma margem pequena de garantia. Era um castelo de areia que permitiu uma acumulação sem par na historia da humanidade. Enquanto, os ricos acumulavam, a classe média consumia como se não existisse futuro. Os espertos e aqueles que entraram primeiro na ciranda da fortuna ficaram ricos. Infelizmente, a pirâmide era falsa e provocou uma insaciável sede por dinheiro que enxugou a liquidez do setor produtivo.
“os mercados de ações em outros países e no Brasil, onde se praticam juros elevados, podem se beneficiar bastante dessa corrida por rendimentos maiores” Sem perceber ou sem outro recurso, o Fed assume o papel de agente social, tira um pouquinho daqui e transfere um montinho para lá, procurando investidores que queiram produzir. O dinheiro existe, ele correu das ações para o mercado de títulos, certificados de depósitos, poupança e outras formas de aplicações remuneradas ou quase remuneradas. O que o governo está tentando fazer é liberar recursos represados nos bancos e incentivando-os a emprestar para o setor produtivo. Isto é, as taxas de juros são baixas porque a oferta de dinheiro é alta, mas não serão pequenas para os tomadores. O que se espera é que elas, pelo menos, estimulem os bancos a emprestar. Os bancos precisam assumir os riscos e emprestar dinheiro para a produção. Todavia, se o setor produtivo não reagir, parte do dinheiro vai pescar juros em outras economias. Nesse sentido, os mercados de ações em outros países e no Brasil, onde se praticam juros elevados, podem se beneficiar bastante dessa corrida por rendimentos maiores. No Brasil, provavelmente, voltaremos a dicotomia de dólar em queda e bolsa em alta. Quem confia na nossa economia não vai deixar recursos em mercados tão debilitados que praticamente não conseguem remunerar nem as cadernetas de poupança.
Atualmente, além da política costumeira de comprar e vender títulos do governo, o Fed colocará mais títulos no mercado. Isso alivia a pressão sobre os juros, aumenta a disponibilidade de recursos nos bancos e transfere crédito daqueles que temem investir na produção para os que gostariam mas não podiam. Isto é, ao vender os títulos, o banco tira dinheiro que se encontra imobilizado nesses ativos, e posteriormente ou concomitantemente empresta de volta aos setores carentes de crédito. É uma política de alocação de recursos que pode dar certo dentro de uma economia seriamente desnorteada pela crise.
Professor Metafix
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De fato, neste momento a política monetária não terá qualquer efeito na economia norte-americana. O que o governo daquele país tem é que entrar fortemente com políticas fiscais contra-cíclicas juntamente com outras ações nas quais possa levar a economia de volta aos trilhos do crescimento.
Abraços
Ótimo comentário. Ele diz, com simplicidade, o que todos querem entender. O que levou ao corte e seus reflexos econômicos.