As Oportunidades da Crise

Professor Metafix 6

É inegável que os mercados financeiros estão passando por um dos piores momentos na história do capitalismo. A queda nos valores das ações dificulta traçar qualquer perfil que agrade leitores pessimistas. Também seria uma temeridade, senão audácia absurda, prever qualquer direção para o mercado. As coisas aconteceram tão rápido…

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As Oportunidades da Crise
Porque o preço das ações podem voltar a subir com o fim da crise.

É inegável que os mercados financeiros estão passando por um dos piores momentos na história do capitalismo. A queda nos valores das ações dificulta traçar qualquer perfil que agrade leitores pessimistas. Também seria uma temeridade, senão audácia absurda, prever qualquer direção para o mercado. As coisas aconteceram tão rápido que qualquer previsão seria equivalente a traçar uma reta sobre um ponto para determinar o futuro. Com tudo isso e apesar das aparências contrárias tentarei, sem remorsos, ser otimista e também não me preocupar com a convenção do F. Veríssimo de que o ?otimista é um mal informado?. Entre a tristeza e os escombros assustadores das perdas acionárias sobram motivos para apontar o fim da crise num futuro não muito distante. Otimismo faz bem a vida, desde que se apresente com uma boa carapuça de críticas, corroboradas com fatos e sem o húbris que assola a maioria dos que acreditam sem questionar as emoções pessoais.

“Sem dúvida, esta crise econômica não é, e nem se parece com nenhuma outra”

Para fazer qualquer afirmação pessimista ou otimista sobre a situação atual, é necessário contrastar essa crise com outras, embora sabendo que a historia não se repete e, se acontecer, concordo com Marx que deve ser alguma farsa. Sem dúvida, esta crise econômica não é, e nem se parece com nenhuma outra. As condições atuais são diferentes e abrem muitas oportunidades e uma brecha de otimismo para os que acreditam na continuidade da historia.

A crise de 1929 foi marcante na historia da humanidade porque, além de acumular males inerentes às recessões, ensejou e provocou muitas mudanças nas relações entre as nações e uma reestruturação interna nas principais economias da época. O marco mais forte foi, sem dúvida, a discórdia que provocou posteriormente a segunda guerra mundial por causa, em parte, do endividamento alemão que se arrastava desde a primeira guerra mundial. Atualmente não temos esse e outros agravantes que provocariam estragos e transtornos maiores na vida das pessoas.

A primeira coisa animadora é que os países estão livres pra se entenderem sem levantar a bandeira do revanche ou tirar proveito próprio em detrimento dos outros. A globalização gerou a consciência de que a solução terá que ser conjunta pois seria a única formar de se evitar os efeitos nefastos da recessão. A luta ideológica cedeu lugar à preferência pelo crescimento econômico independente da filosofia explicita, como afirmou o líder comunista chinês, Deng Xiaoping, ?não interessa a cor do gato desde que pegue ratos.?

A segunda característica animadora que ajuda a separar crise de 29 da atual divide-se em três partes:
a) uma tem a ver com a existência de instituições com poderes e abrangências definidas pela sociedade para socorrer o mercado;
b) as autoridades da época ainda acreditavam no puro ?laser-faire? do mercado e foram lentas para agir;
c) mesmo que desejassem fazer alguma coisa, não tinham meios ou respaldo institucional, pois não havia organizações definidas legalmente para utilizar o poder publico em benefício da sociedade.

Terceiro, atualmente as economias estão ligadas à política. Os governantes respondem com rapidez aos problemas porque sabem que podem ser destruídos ou elevados na mente popular em função do desempenho da economia. O problema mais sério é que a psicologia dos consumidores é muito lenta pra mudar por causa do medo das perdas que ultrapassa a expectativa sobre os ganhos futuros. Além disso, o ambiente de incerteza produz aversão severa nas decisões econômicas, especificamente investimentos em papeis de alto risco. Os consumidores e os investidores se retraem e tentam se proteger aumentando a poupança individual, mas isto provoca uma queda na demanda global. E a queda no consumo e o medo dos investimentos aprofundam a recessão. Este foi o principal empecilho à solução da crise de vinte nove. É sabido que o capitalismo é bastante eficiente pra produzir, mas bastante iníquo para distribuir. Incentivar o consumo sem uma rede social para proteger o consumidor passa a ser uma temeridade inextricável. Felizmente, a maioria das economias já tem estabilizadores automáticos ( como seguro social , aposentadorias e gastos públicos obrigatórios) que podem manter o nível de demanda num patamar razoável. E, além disso, os governos podem aumentar as despesas públicas sem que haja recursos adicionais porque o problema não é falta de meios, mas a disponibilidade para garantir a economia crescendo.

“não se tem notícia de que a crise atual tenha provocado quebradeira generalizada no setor produtivo como ocorreu em 1929” Quarto, não se tem notícia de que a crise atual tenha provocado quebradeira generalizada no setor produtivo como ocorreu em 1929. Embora isto ainda possa acontecer, a maioria das instituições estão preparadas para evitar uma queda abrupta na produção. O estrago será evitado com as medidas já tomadas e outras que ainda virão. Por bem ou por mal, os governantes tentam atenuar os efeitos da crise porque tem meios para prever os efeitos dela com bastante antecedência. Isso não era possível e nem imaginado em 29. Sem dúvida, as perdas atuais são grandes e ainda estão sendo contabilizadas, mas não haverá abandono literal dos postos de trabalho por falta de consumo. Também não se tem notícias de famílias que ficaram sem dinheiro por causa da quebradeira de bancos como aconteceu em 29. O seguro dos depósitos bancários e de outros ativos garantem a continuidade das atividades financeiras sem sacrifício do nível de vida dos correntistas. O problema bancário ficou restrito à funções especulativas das instituições que se arriscaram a garantir ativos lastreados com papeis de qualidade duvidosa. Felizmente, pelo menos aqui nos Estados Unidos, os bancos que foram além do limite do bom senso já foram incorporados por outros bancos ou estão sob intervenção do governo e vigilância constante das autoridades monetárias.

Quinto, é marcante a rapidez com que os principais parceiros comerciais reagiram aos problemas das bolsas, especificamente a tentativa de amenizar os efeitos dos carry trades sobre os preços das ações. Os carry trades, como expliquei em artigo anterior, são trocas de moedas para se aproveitar do diferencial nas taxas de juros. Essa prática, teve efeitos consideráveis ao mercado de ações no Brasil e alhures. O problema dessa modalidade de negócio ainda não acabou e deve continuar enquanto houver desequilíbrio nos níveis de reservas e elevado diferencial nas taxas de juros mas, por enquanto, ele é um diabo conhecido e ficará sob suspeita até que mude o comportamento. Não tenho dúvidas de que as medidas, tomadas no âmbito do FED, são um indicativo de que os bancos centrais estão preparados para atacar até os menores problemas no movimento de capital. A final de contas estamos numa economia globalizada e dependente do livre movimento de capital. Entretanto, a diferença nas taxas de juros ainda provocará corridas por rendimentos mais atraentes entre as economias do mundo inteiro.

“Por isso, as grandes oscilações nas bolsas devem continuar ainda por algum tempo enquanto fingimos um pouquinho mais que não existem problemas fundamentas para serem resolvidos” Infelizmente, nenhuma das medidas estabelecidas toca na questão dos enormes déficits comercial americano que estão ligados ao acumulo desigual de reservas nos fundos soberanos. Estes continuarão livres pra serem aplicadas naquelas economias mais vulneráveis e carentes de capital, como a brasileira. Por isso, as grandes oscilações nas bolsas devem continuar ainda por algum tempo enquanto fingimos um pouquinho mais que não existem problemas fundamentas para serem resolvidos.

Sei que essas constatações não produzem alento significativos para quem investiu em ação e viu os preços despencarem num período tão curto. Por outro lado, embora haja oposição, as lições farão com que os mercados acionários se transformem com rapidez para diminuir o risco para os investidores na formação do capital social das empresas. Devemos lembrar de que ninguem escapa do risco sistêmico, aquele provocado por uma depressão generalizada. Por enquanto, é bom que os investidores se lembrem de que, assim como assumimos riscos pra aumentar os ganhos quando os mercados estão em tendencia de alta, devemos escolher aquelas aplicações que reduzem as perda nas retrações.

“Tenho alguns comentários para os investidores brasileiros que aplicaram seus recursos em ações sem me isentar das dores que afligem todos direta e indiretamente.” Tenho alguns comentários para os investidores brasileiros que aplicaram seus recursos em ações sem me isentar das dores que afligem todos direta e indiretamente. Primeiro, sempre sustentei, baseado nas minhas leituras e conclusões lógicas de que os preços das ações estavam desalinhados e fora da realidade econômica dos últimos anos. Infelizmente, tinha suspeita, mas estava totalmente alheio ao enorme efeito dos carry trades sobre o preço das ações. Concordam-se que os fundamentos da economia brasileira estão sólidos. Todavia não se entendia porque os preços das ações subiam além da produtividade nacional em tão pouco tempo. Esse fenômeno ficou esclarecido com os carry trades ou swaps que de repente trocaram as ações no Brasil por dólar americano. Essa modalidade de negócio se revela como uma face oculta de riscos e oportunidades para os investidores. Identificar os efeitos dos swaps é reconhecer um dos diabos que nos espanta. Agora, os investidores podem se posicionar com mais conforto mental para enfrentar as dificuldades futuras porque o cheiro de enxofre já passou!

O papel fundamental dos governantes é assegurar meios pra estabilizar as economias porque nem os investidores nem os consumidores sentem-se confortáveis num ambiente de incerteza. O problema de voltar ao mercado de ações é que não se compra nada por ser barato e nem se investe porque as taxas de juros são baixas. Olhando os preços das ações pelo lado dos fundamentos tradicionais, nota-se que elas estão bastante atraentes, mas ainda há riscos de caírem mais porque as medidas adotados ainda levarão algum tempo para surtir o efeito desejado. Por enquanto, o máximo que podíamos fazer seria praticar o método,?martingale? também conhecido por ?averaging out.?

Os ?eruditas? da Wall Street acreditam que o pior da crise já passou e que as ações brasileiras estão relativamente baratas. Não posso confirmar as afirmações que ouço pela televisão ou que leio nos jornais, mas se considerarmos as medidas comum de apresentação como, relação preço lucro, retorno sobre investimento e crescimento de vendas, só para citar algumas, sem dúvidas estamos num limiar de boas oportunidades. Os negociadores de swaps voltarão ao mercado provocando um novo surto de crescimento nos preços como produziram anteriormente, a economia está crescendo e os paceiros econômicos fazem tudo pra evitar a recessão. Oscilações fora do normal continuarão porque os swaps ainda serão permitidos no mundo inteiro. O problema de acumulo de reservas de alguns países e o diferencial de juros que atrai capital faminto por rendimentos acima da produtividade continuará enquanto alguns países acumulam déficits enormes e outros mantêm superávits insustentáveis.

“Este é um jogo bastante simples mas difícil de praticar porque requer muita paciência e persistência” Acredito na simplicidade das regras de W.Buffet e Charles Dow. Reunindo-as podemos respeitar o ponto de vista fundamentalista e grafistas. Podemos utilizar os gráficos sem preconceito para medir a força e a oscilação dos preços, mas não devemos abdicar de uma boa análise dos fundamentos da empresa. A primeiro regrar, é adquirir ações de qualidade, sempre escolher a melhor; depois aguardar os preços atingirem um fundo ou um suporte para efetuar compras em tendência de alta. Este é um jogo bastante simples mas difícil de praticar porque requer muita paciência e persistência que, às vezes, nossas necessidades e emoções não agüentam.

Finalmente, aproveito a oportunidade para acrescentar mais uma opinião e, para não contrariar Keynes que dizia, ?no longo prazo, estaremos mortos?, não compro ações pensando no futuro nem tão pouco pra formar capital social da alguma empresa. Com tanta especulação vinda dos quatro cantos da terra, adquiro para lucrar o mais rápido possível nem que seja pouco. Uso a internet. Sei que do outro da linha tem um bando de hienas prontas para me devorar. Por isso, pego meu pedaço e corro consciente de que lucro pequeno não quebra ninguém.

Ganhar dinheiro no mercado de ações significa administrar uma carteira, um trabalho que o leitor terá de encarar como se fosse um comerciante de mercadorias. Substitui-se o produto que não tem saída ou não se valoriza por outro que ainda não provou perdas. Somos juízes das nossas decisões, e por isso, corremos o risco pessoal de aceitar um papel fraco ou rejeitar uma ação boa. Se puder provocar mudanças, provoque-as, é melhor correr o risco e se antecipar do que ser provocado e perder. O importante é tirar proveito consciente de que cada mudança apresenta uma oportunidade diferente. Os melhores ganhos se realizam em ambientes com mudanças intermitentes. Não devemos ter medo nenhum das mudanças nem das oscilações no mercado, a única coisa que ?devemos temer é o próprio medo.? Finalmente, é bom lembrar de que investimento é como gado, só engorda quando estamos olhando!

Professor Metafix

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6 comentaram sobre “As Oportunidades da Crise

  1. Estou torcendo para que caia mais e eu compre muito mais ações, no momento estou exercitando a paciência, mas sempre de olho em oportunidades. Parabéns!!!!

  2. Muito Bom este Blog ,Hoje eu tive um tempinho e fiquei aqui lendo ,nossa quanta informação util,Meus parabéns,virei fã ,voltarei mais vezes,tomara que esta crise seja passageira e não complique com nossa economia ,logo agora que o Brasil esta em fase de crescimento,mas isso serve pra provar que nossa economia esta fortalecida ,grande abraço,Camilo,Cidade de Registro-sp

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