A Crise e o Preço das Ações

Professor Metafix 2

Aproveito a oportunidade para lançar uma breve discussão sobre os swaps, uma modalidade de aplicação financeira pouco utilizada no Brasil mas que nos afeta diretamente.  Swap significa troca, nesse caso, de  dois ativos com retornos e riscos diferentes. Atualmente esta havendo uma grande reversão dos swaps de moedas que, de forma célere, revela-se bastante nefasta para muitas economias…

Compartilhe

A Crise e o Preço das Ações: Como a Reversão dos Swaps Estão Afetando o Preço das Ações

Aproveito a oportunidade para lançar uma breve discussão sobre os swaps, uma modalidade de aplicação financeira pouco utilizada no Brasil mas que nos afeta diretamente. Swap significa troca, nesse caso, de dois ativos com retornos e riscos diferentes. Atualmente esta havendo uma grande reversão dos swaps de moedas que, de forma célere, revela-se bastante nefasta para muitas economias. Essas são arrastadas como inocente vitimas pelos ventos da insegurança e da inversão dos swaps. Esta modalidade de negócios havia crescido lentamente e penetrado as economias mais inocentes do planeta, mas agora anda de marcha ré em alta velocidade e transferindo riqueza dos mercados mais frágeis para os mais ricos. Muitos investidores estão desfazendo deles, vendendo ações no desespero para recomprar os dólares adquiridos com recursos desses investimentos. Essa reversão é responsável pela valorização do dólar americano, do Iene japonês e pela depressão no preço de ações em mercados como o Brasil. A corrida para essas moedas dar mais segurança aos investidores mas, além de deprimir ainda mais o preço das ações, estrangula a capacidade dos bancos suprir dólares para as empresas cumprirem os compromissos assumidos com a moeda americana.

Quando a economia mundial ia bem, os riscos entre os países se nivelavam relativamente bem e não tinham muito importância, de tal maneira que permitiam os agentes econômicos (empresas e indivíduos) escolherem em que moeda deveriam investir sem temer os riscos da varição cambial. Por exemplo, uma empresa ou um trabalhador japonês pode com poucos Ienes e fazer um swap com outra moeda. Ele pode comprar Dólar americano, ou Dólar australiano, Euro, Libra ou outra moeda qualquer. Ele, obviamente, vai escolher aquela que paga juros maiores. Ele vai a seu banco e faz o swap, chamado também de carry trade, entre uma moeda e outra pra ganhar a diferença de juros entre as duas moedas, mas pode usar a moeda adquirida pra fazer outros negócios. Muitos praticam o carry trade porque a taxa de juros no Japão é quase nula e nos outros países é muito mais elevada. Os investidores profissionais, bancos e empresas vão bem mais longe, e aplicam os recursos em ações, títulos da dívida americana, ou de qualquer outro país onde os retornos são maiores.

“Com a crise as coisas mudaram rapidamente e deixaram os investidores mais conservadores, impacientes e nervosos”Com a crise as coisas mudaram rapidamente e deixaram os investidores mais conservadores, impacientes e nervosos. Quando há crescimento acelerado no mundo inteiro, a diferença entre 2 e 4 por cento na taxa de juros, por exemplo, não parece ser muito, mas quando o crescimento é baixo ou nulo, ela assume uma importância enorme pois, nesse caso, os juros se transformam na única fonte de rendimentos segura para o capital. Vejamos mais um pouco a importância dessa relação seguindo o caminho tortuoso dos carry trades ou swaps como acontece no Japão ou em outros países com superavit na balança comercial. No Japão a pratica do swap é muito conhecida e até recentemente temia-se pouco a apreciação ou depreciação do Iene.

A prática do swap, pelo menos no Japão, é tão comum que muitos trabalhadores vão ao banco todos meses para troca parte do salário, em Iene, por Dólar ou outra moeda mais rentável. Vamos supor que o cliente efetuou o swap, ele trocou Iene por Dólar australiano. Com dólar australiano na conta ele ganhará 6,5% de juros ao ano, e em troca vai pagar meio por cento de juros sobre os Ienes que vendeu. A troca vai render um valor líquido de 6% a.a., que é a diferença entre as duas taxas de juros. Nada mal para quem vive de salário! O único risco que o investidor corre, em bons tempos, é do Iene se apreciar rapidamente em relação a outra moeda do swap. Se há possibilidade de alavancagem de 1 por dez, o investidor deposita 1 Iene na conta e o banco disponibiliza 10 para ele fazer a operação de swap. Assim ele pode ganhar 10 vezes a diferença entre a taxa de juros australiana e a japonesa. Com um ganho tão grande como esse, até os mais tímidos perdem a inibição e ninguém pensa muito em riscos de apreciação ou depreciação de moedas, mas é ai onde mora o perigo!

“Sendo assim, ações de países como o Brasil, podem subir com muito mais força do que aquela que existiria só por conta dos fundamentos da economia doméstica”Vejamos a segunda ramificação do carry trade. O banco ou corretora que efetuou o swap não vai ficar com os dólares australianos parados na conta, ele aproveita a oportunidade para comprar ações na Austrália se estiverem se valorizando. O banco também pode comprar títulos de dívidas de empresas e do governo australiano. Além disso, o banco pode fazer outro swap com euro e o mesmo tipo de negócio na Europa, no Brasil ou em qualquer outra economia que achar mais atraente. Esse rodizio funciona como lenha na fogueira, sempre aquecendo o mercado onde entra dinheiro dos swaps. Sendo assim, ações de países como o Brasil, podem subir com muito mais força do que aquela que existiria só por conta dos fundamentos da economia doméstica.

“É por isso que notamos uma razoável correlação entre a apreciação do Dólar americano e do Iene japonês e a queda nas bolsas de países com sólidos fundamentos da economia, como no Brasil”Vejamos o que está acontecendo no mercado brasileiro para completar o exemplo. A injeção de capital estrangeiro alavancou o mercado doméstico além da força dos negócios internos. Infelizmente, qualquer alavancagem é uma faca de dois gumes. Quando um investimento é alavancado em 10 vezes; um por cento de aumento provoca 10 por cento de ganho, mas um por cento de queda produz 10 por cento de perdas! A lição é clara, à medida que os swaps se invertem provocam uma retirada parcial da alavanca cambial e produz uma apreciação do Dólar no mercado internacional e rápida queda nas bolsas de muitos países. É por isso que notamos uma razoável correlação entre a apreciação do Dólar americano e do Iene japonês e a queda nas bolsas de países com sólidos fundamentos da economia, como no Brasil. À medida que o risco de recessão mundial aumenta, os estrangeiros, detentores de ações brasileiras ou de qualquer outro país, procuram se livrar desses investimentos trocando-os por Dólar americano e por Iene japonês.

Vejamos mais um exemplo do efeito da reversão de swaps. Vamos supor que o investidor japonês autorizou o banco ou corretor dele a investir os dólares em ações nos Estados Unidos. Sendo humilde, mas muito esperto também, agora aproveita a oportunidade para vender as ações (que estão caindo) e recomprar os dólares (que sobem). Ele pode desfazer do swap recomprando os Ienes ou simplesmente manter seus recursos investidos no Dólar americano que se aprecia e ainda paga juros mais do que o Iene. Note que nessa reversão o Iene se apreciou mais do que o Dólar, isto porque está havendo também reversão de swap do Dólar para Iene além da recompra de dólares com a venda de ações.

Antes da crise, os recursos corriam para investimentos mais rentáveis porque os riscos eram relativamente baixos. Como tudo crescia, não era necessário ser gênio para ganhar investindo em ações com segurança. Agora a coisa muda de figura, o risco das perdas é mais iminente do que a possibilidade dos ganhos. E, como já sabemos, como a dor da perda é mais intensa do que o prazer dos ganhos, na crise todos correm para investimentos de menor risco. Infelizmente, o Brasil foi pego no fogo cruzado e está pagando por oferecer expectativas maiores do que outras economias ou, por ser mais atraente para investimentos estrangeiros. O certo é que com dinheiro entrando apenas num setor, o financeiro, o movimento monetário exacerba o preço dos ativos com pouco efeito sobre o resto da economia. Isto é entra muito dinheiro no país sem efeito apreciável sobre a inflação porque o efeito fica restrito à valorização de ativos financeiros. Além do mais, antes também dava-se pouca atenção a esse fenômeno porque os valores foram alavancados lentamente, mas com a crise e a reversão dos swaps, retira-se a alavanca e os preços caem com força de uma implosão. O certo é que a festa acabou, agora precisamos tomar muito café amargo para eliminar a ressaca!

Professor Metafix

Professor Metafix
Últimos posts por Professor Metafix (exibir todos)
Compartilhe

2 comentaram sobre “A Crise e o Preço das Ações

  1. do post A BOLSA AGORA, do Blog Dr. Negociação:
    1 pensando que vai cair, 2 pensando que vai cair, 1000 pensando que vai cair: alguma coisa vai cair.
    1 pensando que vai subir, 2 pensando que vai subir, 1000 pensando que vai subir: alguma coisa vai subir.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

10 − 4 =

Próximo Post

Os Motivos da Crise

A psicologia das crises financeiras já é bem conhecida e foi documentada maravilhosamente bem por Charles Mackay na obra prima, ?Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds?. Os ciclos de negócios na economia capitalista também são bem conhecidos. Mas o atual é bem diferente porque acontece num...
NULLNULL