Conspiração de Bancos

Professor Metafix

O acordo entre os bancos centrais da Europa, do Japão e dos Estados Unidos para manter a liquidez na zona do Euro tem ramificações Smithianas. Inocentemente não deixa de ser uma tentativa involuntária para se fazer uma experiência de como seria um banco central que servisse os dois lados do Atlântico…

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Conspiração de Bancos

“Homens de negócios raramente se encontram para se divertir ou aproveitar as coisas da vida, mas quando o fazem, a conversa     termina numa conspiração contra o público ou num conluio para aumentar os preços. ” Adam Smith O acordo entre os bancos centrais da Europa, do Japão e dos Estados Unidos para manter a liquidez na zona do Euro tem ramificações Smithianas. Inocentemente não deixa de ser uma tentativa involuntária para se fazer uma experiência de como seria um banco central que servisse os dois lados do Atlântico, com o dólar como moeda principal, claro! Por outro lado, esconde uma faceta de controle a que o povo se submete e não sabe como evitar.

A decisão dos bancos centrais de agirem em conjunto, emprestando dólares, e não Euro, aos bancos europeus, foi em parte, uma resposta negativa à suspeita da China de que o dólar americano não servia mais como moeda internacional. Além disso, os Estados Unidos mostraram que, se a China não valoriza o Yum, eles vão se aproveitar da crise de liquidez na Europa para desvalorizar o dólar, aumentando a disponibilidade da moeda mesmo correndo o risco de inflação.

Por outro lado, a decisão levanta outras suspeitas e interpretações curiosas. É bom relembrar de que o plano Marshall, para recuperar a Europa depois da segunda guerra mundial, também injetou grande quantidade de dólares na Europa falida e ergueu aquelas economias destruídas pelo infortúnio da guerra. Nada sai de graça! É bom não esquecer de que essa recuperação foi importante também para dinamizar a economia americana, pois o dólar que ia para a Europa era o dólar que voltava para comprar produtos americanos. E ai está o grande paralelo, o dólar que vai hoje é o dólar que voltará depois procurando produtos americanos.

Essa ação conjunta mostrou que, como a Europa está dividida, com muitos caciques e poucos índios, tem dificuldades de montar um sistema coerente com suas próprias necessidades econômicas. Por força do destino e da natureza das estruturas econômicas, ela precisa de um líder e não pode escolher entre os seus pares por questões políticas hereditárias que todos conhecemos.

A integração entre as duas economias, a dos Estados Unidos e da União Européia, é fundamental para a estabilidade econômica mundial e para que o dólar continue sendo a principal moeda de trocas internacionais. O aumento na quantidade de dólares em circulação fora dos Estados Unidos gera uma oportunidade, embora ainda embrionária, para se criar uma união monetária entre os dois blocos. Isto é, por ora, o dólar tende a segurar o Euro, mas isto será apenas o tapete invisível que será arrastado depois quando os europeus se deram conta de que não tem condições de sustentar uma moeda independente por falta de liderança política própria. Quando esse momento chegar, o dólar americano pode se tornar no principal numerário de trocas aceitável nos dois lados do oceano.

O enfraquecimento do dólar não assusta os Estados Unidos e não impede dele ser a moeda principal. Na ausência de um aumento de produtividade a um nível suficiente para diminuir o custo dos produtos americanos, a depreciação da moeda é a única solução, a curto prazo, para aumentar as exportações e elevar o nível de emprego doméstico.

Por outro lado, as autoridades monetária procuravam uma desculpa para uma nova onda de “quantitative easing” , (título simbólico para esconder a impressão de moeda sem lastro) mas não tinham uma brecha política para aumentar a liquidez internamente porque seriam acusadas de promover inflação. Entretanto, em todas crises do capitalismo, a inflação foi a solução. Claro que ela não agrada a maioria, especificamente os que vivem de renda fixa; rentistas, assalariados e pensionistas. Infelizmente, ela é uma forma, na ausência de outras mais diretas e transparentes, de se diminuir a dívida e incentivar o consumo e os investimentos.

A economia é uma ciência infeliz porque só funciona bem quando as coisas vão mal. Já viu alguém viver bem vendendo remédio pra quem tem saúde de ferro? Não existiria industria farmacêutica se não fosse a desgraça das doenças. Não haveria nenhum industria se não fosse a necessidade humana! A economia é uma acomodação de infortúnios. Nossa vida melhora quando aumentamos a produtividade mas também quando ganhamos a custa dos outros. Não existe saída para esse dilema sem revogar as leis de sobrevivência da espécie.

Quem tenta ganhar operando em mercados financeiros e bolsa de valores tem que ter consciência de que esse é, em parte, um jogo de soma zero que os bancos ignoraram. Ações sobem quando os investidores e especuladores antecipam aumento de produtividade e de lucros das empresas. Entretanto, querem ganhar também quando a economia vai mal, mesmo sabendo que os lucros podem vir das perdas alheias. Infelizmente, isso também dinamiza a economia que depende do fluxo de dinheiro independente da origem dos fundos.

Aumento de valor de ações e outros ativos em tempos de crise pode ser em função da burrice de alguns e ou da sagacidade de outros independente do nível de produtividade. O certo é que mercado e economia não ajudam, mas teimamos em acreditar que eles nos favorecem. Isso talvez não importa, pois a consciência nos transforma em covardes, como dizia Shakespeare. Esperneamos e reclamamos enquanto a avareza mostra que a seleção da espécie vai além da biologia para determinar quem fica e quem cai fora. Nada de emoção camarada, seremos sempre enganados pelo acaso!

A consciência, em defesa da sobrevivência, nega os erros que cometemos. Os bancos europeus e dos Estados Unidos erraram e agora estão sofrendo da indigestão dos riscos que assumiram e não aceitam perder. As medidas adotadas pelos bancos centrais, anunciadas no fim de novembro representam uma conspiração contra o público alheio a especulação desenfreada que os bancos cometeram. A injeção de dólares nos bancos europeus equivale a um aumento do meio circulante – que pode provocar inflação. Este é um mecanismo opaco que transfere o ônus das dívidas para a maioria que vive de renda fixa e de salário. Os bancos centrais sabem disso, mas eles permitiram que os bancos ultrapassassem as funções de provedores de liquidez para se transformarem em especuladores ocasionais. Sequestraram do mercado o direito de especular e de negociar valores. Erraram; mas tem o poder de transformar derrotas em vitorias passando por cima dos inocentes. Apesar da falha dos banco centrais em regular e vigiar os outros bancos, a consciência deles nega o equívoco e transfere para o povo o ônus dos erros. Salvem os credores! Os devedores, enforcados pelos juros, e os trabalhadores, pelo desemprego e achatamento de salário real, podem esperar!

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