O IPO da Petrobras e o Valor de suas Ações

Professor Metafix

O mega lançamento de ações da Petrobras lembra de uma anedota sobre a estreia do filme Pygmalion de George Benard Shaw. Shaw era o convidado de honra, autor da peça original e roteirista do filme. Depois da apresentação, dizem que um amigo dele reclamou – George, esse filme é muito ruim. Shaw retrucou – eu sei, mas o que vamos fazer com essa multidão que está aplaudindo

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O IPO da Petrobras e o Valor das Ações.

O mega lançamento de ações da Petrobras lembra de uma anedota sobre a estreia do filme Pygmalion de George Benard Shaw. Shaw era o convidado de honra, autor da peça original e roteirista do filme. Depois da apresentação, dizem que um amigo dele reclamou – George, esse filme é muito ruim. Shaw retrucou – eu sei, mas o que vamos fazer com essa multidão que está aplaudindo!

Apesar das dúvidas, torcemos pelo sucesso do projeto da Petrobrás porque ele toca as nossas vidas quer seja na bomba de gasolina ou no pregão da bolsa. Na realidade, torcemos mais pelo nosso bolso do que pelo cofre da empresa. Infelizmente, como não podemos desassociar as duas coisas, é bom fingir um pouco e desejar sucesso para os dois porque qualquer alternativa seria pior.

O mega lançamento de ações da empresa deixou uma grande lição, semelhante a do salário de Pasquale. Isso reforça a lógica de que em vida, às vezes, só temos uma uma boa opção. Não se trata de alcançar eternidade como sonhava Pasquale, quando abandonou a matemática e se enclausurou para não ir para o inferno, mas não podemos divagar. Precisamos apostar no lucro da empresa mesmo sabendo que o projeto muda a feição da companhia e prejudica os acionistas minoritários.

Entretanto, nossos desejos talvez sejam irrelevantes porque em negócios se pratica muita crueldade financeira em nome de uma boa administração. Infelizmente, temos que nos preparar, pois a empresa corre o risco de ver seus lucros diluídos por custos e riscos inesperados mesmo que e isso não interesse a ninguém. Acreditar duvidando é o melhor remédio, especialmente para aqueles que ainda possuem ações da companhia compradas antes da crise econômica ou no auge dos preços.

Chamo atenção para alguns detalhes a caminho do lançamento. Notamos que a evolução do preço da ação demonstrou a força e a sabedoria do mercado que aos pucos diluiu o valor do papel para refletir uma nova realidade; um aumento exagerado nos riscos do negócio. Para o pequeno acionista a coisa piorou, pois além dos riscos aumentarem, a firma se fechou com o aumento na participação do governo e de grandes investidores privados. Ela ficou mais imune as forças da oferta e da procura e isto só interessa aqueles que podem movimentar enormes somas de capital.

Para o público em geral, o resultado também não é promissor, pois o reduzido número de participantes e maior quinhão do governo transformaram a empresa numa entidade mais fechada, mais politica e menos comercial. À essas alturas, a opinião do mercado não tem o peso benéfico da concorrência saudável. Isto é, os preços interno do petróleo podem até ser determinado por decreto porque essa é a prorrogativa dos monopólios públicos. Os grandes investidores e governo também terão o dia deles ao sol: determinarão quando quiserem o preço das ações. Assim temos a possibilidade de um tirania perfeita, nascida de um estranho casamento entre o governo e o capital internacional!

Argumento que a empresa também não se saiu bem como esse lançamento. Ela não foi muito feliz nessa oferta de ações apesar dos aplausos. Em negócios, o timing é fundamental e, nesse sentido, a demora do lançamento assustou muitos investidores e diluiu tanto o preço das ações que prejudicou o projeto no aporte de recursos. Além disso, os grandes investidores reconhecendo o poder de barganha num projeto dessa envergadura, aproveitaram a demora do lançamento para empurrar pra baixo o preço das ações e comprar ainda mais barato. Com a demora, a empresa não teve alternativa, perdeu uma boa parte daquilo que poderia ter levantado. Esse prejuízo não será fácil de ser recuperado sem ter que passar o ônus para o consumidor inocente.

Mas, o grande acionista não precisa se preocupar pois, como a empresa não tem concorrente direto, pode apelar para o poder de monopólio que realmente tem. E como já pagamos por uma gasolina bastante cara, não duvidem de novos aumentos. Assim, “o petróleo é nosso” apanha como mulher de malandro e tudo se faz e se justifica pela auto-suficiência. Lamentavelmente, descobriram que esse é um problema fácil de se resolvido, basta elevar o preço a um patamar distante do poder aquisitivo do consumidor, como se faz atualmente, que seremos sempre auto-suficiente sem adicionar um pingo de petróleo no mercado.

Entretanto, a coisa não é tão simples; os novos investidores estão assumindo enormes riscos enquanto a empresa transfere parte do ônus para os antigos aplicadores. Isto é, antes os pequenos detinham uma boa parcela de uma empresa bastante sólida, agora detém ações desvalorizadas com riscos de perder mais valor nas profundezas do mar e no grito do pregão eletrônico. Em termos relativos, o governo e os acionistas minoritários ficaram com a metade da antiga empresa (levando em consideração o montante do antigo capital e novo valor das ações), porém com um risco significantemente maior. Como explicar para um leigo que as ações valem menos atualmente do que valiam antes, sem que a empresa tenha tido qualquer prejuízo? Caso ímpar na historia dos negócios! Mas o que fazer, às vezes, para crescer, precisamos de parceiros incômodos que provocam decisões surrealistas.

Vejo uma linda lição em tudo isso. Primeiro, é necessário se afastar de qualquer multidão porque nela prevalecem os julgamentos emocionais tão perigosos quanto efêmeros. Por outro lado, podemos ver como o mercado se mostrou sábio e soberano; ajustou os preços desde dezembro p.p. para refletir a incerteza que paira sobre o novo projeto. Além disso, a condução do lançamento foi confusa e deixou um gosto amargo apesar dos aplausos na Bovespa.

Além do estranho companheirismo também, os antigos acionista não receberam nenhum beneficio, ou incentivo para adquirir novas ações. Aliás, ficaram à margem do processo esperando num limbo até a véspera do lançamento para conhecer o valor estimado pelo consórcio ou book maker responsável pela oferta. E, acima de tudo, ficaram com uma ação que vale muito menos do que valia antes mas carregando um risco extraordinariamente maior. Bernard Shaw deveria estar presente, pois sacudimos os ombros da levianidade e aplaudimos com a impotência que nos reserva, mas ainda gritamos que somos fortes. A decisão já foi tomada e não podemos chorar sobre o leite derramado. Agora só resta torcer pelo sucesso da empresa senão pagaremos ainda mais pela energia que consumimos. Destarte, os pequenos aplicadores precisam aprender que sardinha que entra em briga de tubarão vai ser devorada antes do tempo.

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