O Bêbado e a Economia

Professor Metafix

Aproveito a oportunidade pra traçar alguns paralelos entre a crise financeira e o bêbado. O capitalismo é como um bêbado que não consegue andar em linha reta, e vive num permanente estado de auto negação sobre os efeitos da liquidez. O ébrio, quando não bebe, treme e, quando bebe, exagera e cai. Assim, anda o mercado. A falta de liquidez atualmente é tão forte que …

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O Bêbado e a Economia

Aproveito a oportunidade pra traçar alguns paralelos entre a crise financeira e o bêbado. O capitalismo é como um bêbado que não consegue andar em linha reta, e vive num permanente estado de auto negação sobre os efeitos da liquidez. O ébrio, quando não bebe, treme e, quando bebe, exagera e cai. Assim, anda o mercado. A falta de liquidez atualmente é tão forte que os bancos não querem emprestar dinheiro com medo de perder, enquanto o mercado agoniza e ameaça não pagar por falta do precioso liquido. O governo americano já aceitou que o problema da crise é a falta de liquidez. E as autoridades monetárias se estrebucham por todos os meios pra resolver a crise por este ângulo obtuso. O espetáculo é grandioso, e se alastra pelo mundo num palco digno de Schopenhaur, onde não sabemos se devemos ri ou chorar.

Entretanto, a própria crise foi gerado por excesso de liquidez. Os bancos esbanjavam tanto dinheiro que pegavam investidores a lasso e imploravam para que investissem em alguma coisa sólida que rendesse algum retorno líquido. Inegavelmente, essa atitude foi a responsável pelo surto de crescimento no mercado imobiliário. Mas, como um alcoólatra, os bancos não souberam parar, não souberam administrar o precioso líquido e, quando se deram conta, haviam bebido tanto que a liquidez já não era suficiente para atender os compromissos dos melhores clientes. Enquanto isso, muitos aproveitaram a farra e agora não tem nem como honrar os compromissos. Agora, todos conclamam como ébrios para que o bar fique aberto e satisfaça a sede incessante de suas necessidades mesquinhas.

Posso até acreditar que o sistema seja eficiente a base do líquido inebriante, o dinheiro, mas não tem mecanismo técnico, éticos ou morais pra determinar os limites das necessidades de capital. A liquidez exagerada permite os bancos ganhar no volume dos negócios; podem emprestar sem escolher os melhores tomadores porque todos, independente da técnica ou da arte, conseguem ganhar dinheiro quando os riscos são baixos. Mas quando os negócios crescem exageradamente, além da produtividade da economia, os riscos aumentam, a liquidez fica relativamente escassa e sufoca o sistema de forma induzida e ?sistematicamente? errática. É aí que os bancos se dão conta que devem emprestar apenas para aqueles projetos mais rentáveis.

“Os ganhos da economia nos últimos anos eram fictícios, mas como aceitar que o paraíso não existe depois de tanta pregação ameaçadora a favor da fé e contra a razão? Como pode a economia real crescer a 2 ou 3 por cento ao ano e a financeira trinta por cento? Onde está a mágica?”

Os patagonistas não aceitam o resultado das leis de mercado. Todos temem até a autocrítica porque ninguém consegue pensar contrariando o bolso. É por aí que se estende a cortina do obscurantismo. Os ganhos da economia nos últimos anos eram fictícios, mas como aceitar que o paraíso não existe depois de tanta pregação ameaçadora a favor da fé e contra a razão? Como pode a economia real crescer a 2 ou 3 por cento ao ano e a financeira trinta por cento? Onde está a mágica? O sistema terá de enxugar a riqueza falsa antes de voltar a realidade de que essa façanha resultou na maior concentração de renda dos últimos tempos. Muitos mutuários já abandonaram o sonho da casa própria, mas os capitães do mercado financeiro ainda sonham com o iate, o jato e o palácio de veraneio porque relutam em abandonar as opções acumuladas na empresa. Isso contraria o salto da fé acumulada da mesma forma que acumularam o capital, sob uma premissa falsa.

O apego exagerado e mesquinho para defender ganhos irrealistas barra qualquer tentativa sensata pra sanar os problemas financeiros. Assim, ficamos no abandono e a solução da crise fica por conta da própria crise. O descompasso gerado entre o setor financeiro e o setor produtivo terá que diminuir, mas isso leva tempo. Enquanto isso, o setor produtivo paga a conta e o financeiro arrasta a classe média e os pobres para a sarjeta da miséria. Infelizmente, o mercado é cruel, mas a lei da gravidade é igual para todos e as leis da física são imutáveis e não podem ser ignoradas. Até o bêbado sabe que o líquido em demasia o leva a sarjeta, mas o vício, pelo lado do viciado, é apenas um gosto apurado.

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